Algumas pessoas acreditam que a vida fica séria quando atingimos a maioridade, entramos para o mercado de trabalho ou começamos a pagar os nossos próprios boletos. Eu não penso assim. Eu acredito que a vida fica séria quando pessoas queridas começam a partir e nos deparamos com a morte. A partir deste momento, a vida perde a leveza, um pouco da cor, um tanto da graça e torna-se austera, pesada e fragmentada.
Ah, mas a morte não precisa ser encarada como algo triste, alguns vão dizer. Sim, eu concordo. A morte pode ser vista como um alívio para as dores, as doenças e os sofrimentos. Ela pode, inclusive, ser uma verdadeira libertação para corpos físicos cansados e saciados da aventura terrena, mas e quanto a dor da separação? Há como não sofrer com a dor da separação? É possível seguir leve, sereno e inteiro depois que se perde alguém?
Os psicólogos afirmam que é possível ressignificar a dor da perda. Eu também concordo isso. Aliás, eu acredito que só conseguimos seguir em frente porque temos essa grande capacidade de ressignificar e transformar a dor em boas memórias e em boas ações para aqueles que estão ao nosso lado e ainda dependem de nós, do nosso apoio, colo e presença.
Não é fácil, no entanto, transformar a dor em algo sublime, sem antes atravessarmos um mar de sentimentos que tornam a nossa fé questionável e vacilante. Ressignificar exige tempo. Um tempo único e intransferível para cada um de nós, porque cada pessoa lida com a dor à sua maneira, da forma como consegue e lhe é possível.
O fato é que quando perdemos alguém, a vida pede para seguirmos em frente; e nós seguimos, meio a contragosto, um pouco desorientados, mas seguimos. Prosseguimos porque a vida exige que continuemos em movimento, resolvendo as questões do dia a dia, os problemas burocráticos, as questões financeiras. Seguimos porque a vida, que se tornou séria e menos alegre, exige que continuemos em passos lentos ou rápidos, cumprindo um calendário esvaziado de sentido, rumo a um destino desconhecido.
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