“Filho é um espinho”, disse uma senhora do meu condomínio outro dia para mim. “Você acha?”, perguntei intrigada. “Sim!”, afirmou ela sem pudor. Eles nos cansam quando crianças, nos preocupam quando adultos e esquentam a nossa cabeça a vida inteira. Ajeitei a minha filha no colo, me aproximei – ainda não eram tempos de pandemia – e comecei a ouvir, com mais atenção, o que aquela senhora de cabelos brancos e pele enrugada tinha pra me dizer.
Ela falou por uns cinco minutos. Contou todas as suas aventuras e desventuras como mãe. Me colocou a par até de alguns detalhes inconfessáveis – que eu preferia nem ter escutado. Vez ou outra, minha filha chutava a minha perna em tom de impaciência, como se pedisse para que saíssemos dali,mas como interromper uma senhora determinada a narrar a vida para uma jovem estranha? Fiquei ali, em pé, com dor na espinha dorsal, até que ela encerrasse toda a sua trajetória maternal.
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