terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Sampa



Moro em São Paulo desde pequena e mesmo sabendo que há muitas coisas ruins nesta cidade como a violência, o trânsito e tantas outras mazelas que até uma criança de 7 anos é capaz de pontuar, com facilidade, não consigo me imaginar morando em outro lugar.

Não posso negar que São Paulo me inspira sentimentos contraditórios. Sou capaz de odiar e amar essa cidade inúmeras vezes ao longo de um mesmo dia. Odeio São Paulo quando fico presa no trânsito ou quando me sinto exposta a violência, mas amo essa cidade pela agitação constante, pelos seus parques e tantas outras opções de lazer e diversão.

O fato é que gosto de São Paulo. Gosto desta metrópole que abriga tanta gente diferente, que acolhe tantas culturas, tantos povos. Cidade generosa que permite que as pessoas aconteçam, que os negócios prosperem e que o Brasil não pare.

Parabéns São Paulo!

Camila Santos

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Educomunicação: uma revolução no espaço escolar

Recentemente tive contato com um tema até então ignorado por mim: a educomunicação. De cara imaginei que esta tal educomunicação consistia na união da comunicação com a educação, simples assim! Mas eis que descubro, por meio de uma entrevista realizada com o Professor Ismar de Oliveira Soares, que este é um assunto mais amplo e complexo do que o meu pobre senso comum poderia supor.

Educomunicação, para quem ainda não sabe, é um novo campo de atuação. Uma nova área de estudo que busca utilizar a comunicação e as suas ferramentas ou mídias: internet, rádio, televisão e cinema para práticas educativas. "Ela existe em decorrência de uma tradição latino-americana que busca promover o direito universal à expressão, numa perspectiva dialógica, através da formação de ecossistemas comunicativos abertos e participativos em espaços destinados à educação", explica o professor Soares.

O tema ganhou visibilidade no Brasil no final da década de 90, após o Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo (NCE) realizar uma pesquisa com especialistas de países da América Latina e da Península Ibérica. Fundado em 1996, sob coordenação do Professor Soares, o Núcleo pretendia pesquisar a inter-relação existente entre as áreas de comunicação e educação e descobrir quais eram as características dos profissionais que atuavam neste campo.

Tamanha é a importância do assunto que em 2009 a Universidade de São Paulo (USP) aprovou a criação do curso de Licenciatura em educomunicação para o vestibular da FUVEST. O principal objetivo do curso, oferecido pela Escola de Comunicações e Artes da USP, é preparar os profissionais para atuarem na interface entre as áreas de Comunicação e Educação.

Para entender um pouco mais sobre esse assunto confira a entrevista concedida pelo Professor Soares. Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo, Soares é reconhecido como o precursor dos estudos sobre educomunição no Brasil.

Camila: Como podemos definir o conceito Educomunicação?

Professor Ismar de Oliveira: Quando falamos em educomunicação temos que pensar numa permanente troca de informação e de produção cultural envolvendo o aluno, o professor, a coordenação da escola e a família, algo que só pode ser alcançado se a escola for um ambiente democrático, onde o aluno possa participar ativamente, expressando suas idéias e emoções. A educomunicação propõe uma troca simultânea de experiência, de informação entre o professor e o aluno, algo recíproco.

Camila: A prática educomunicativa se resume no uso de novas tecnologias ou redes sociais?

Professor Ismar de Oliveira: Desde que a criação tenha a participação simultânea entre o aluno e o professor, porque existe uma parceria, o aluno só aprende quando produz. A educomunicação diz que o professor é um sujeito dialogante, então utilizar os meios de comunicação de forma crítica e reflexiva é uma parte da educomunicação.

Camila: Existe uma receita para formar educomunicadores?

Professor Ismar de Oliveira: Não há uma receita, o educador com visão dialógica tem dom para ser educomunicador. É possível formar educomunicadores, em cursos de especialização ou mesmo num curso de graduação, como ocorre em Campina Grande, PB, onde a Universidade Federal acaba de inaugurar um bacharelado e na USP, com a Licenciatura em Educomunicação que se destina a formar um professor e um consultor para o novo campo. Idependentemente desses programas oficiais, a prática vem se difundido pela América Latina e em outras partes do mundo a partir de troca de experiências entre educomunicadores auto-didatas. No Brasil, por exemplo, existe uma associação de ongs que se formou justamente para garantir coerência em seu trabalho educomunicativo. Trata-se da Rede CEP – Comunicação, Educação e Participação. Além disso, há práticas educomunicativas em muitos espaços, especialmente em veículos educativos de comunicação. Aliás, somente agora, mais de 40 anos depois de seu surgimento nas práticas da sociedade civil, é que a educomunicação está chegando às escolas e isso justificou a criação de cursos superiores, pois o sistema educativo exige uma formação específica dos que pretendem atuar nas escolas.

Camila: Como podemos inserir as práticas educomunicativas dentro da sala de aula?

Professor Ismar de Oliveira: Hoje é possível reunir um grupo de professores e alunos e trabalhar com eles práticas educomunicativas. No caso, como não existe uma disciplina denominada educomunicação, a prática se dá através do que se denomina como “pedagogia de projetos”, isto é: grupos de professores e alunos interessados no tema desenvolvem suas experiências, com maior ou menor apoio da direção, com maior ou menor integração com as diferentes disciplinas. Tomemos o exemplo do Educom.rádio, um projeto que levamos para 455 escolas da Prefeitura de São Paulo, entre 2001 e 2004. Hoje, passados dez anos da implantação da experiência, a educomunicação ganhou força para permanecer numa grande rede de educação sem necessidade da assessoria direta da Universidade. No entanto, identificamos diferentes comportamentos das escolas, seus professores e alunos: Em algumas escolas, já não se fala mais no assunto, pois os que fizerem o curso não estão mais nelas e não há quem tenha conhecimento e interesse em buscar formação. Num segundo grupo, existe a prática, mais está vinculada com o conceito de tecnologia educacional. Isso significa dizer que o uso da mídia está à serviço da didática, estando expressamente relacionado à aprendizagem de algum conteúdo, não interferindo nas relações entre as pessoas. Existe, contudo, um grupo significativo de escolas que tem na prática educomunicativa uma filosofia de vida, um paradigma e participação, não importando o meio, se é um programa de rádio, uma produção de vídeo ou o uso do computador, contando que o protagonismo juvenil esteja garantido numa relação criativa e dialógica no espaço da escola. As exigências que a Educomunicação faz aos sistemas de ensino tem feito muitos gestores e professores abominarem o conceito. Prefiram trabalhar as tecnologias da informação simplesmente como suporte didático, sem qualquer incidência sobre a vida da escola e as relações entre as pessoas. Importante lembrar que a educomunicação não propõe uma atitude apenas reflexiva, mas sim ativa, de participação, porque reflexivo é quando alguém fala e o outro reflete sobre aquilo, já a educomunicação propõe trocas de informações, ou uma reflexão compartilhada, mediante um programa que permita o trabalho colaborativo. Frente aos padrões tradicionais, isso pode representar uma revolução no espaço escolar.