Volta e
meia eu travo e não consigo escrever nada. Mesmo com a cabeça a mil, sinto uma
dificuldade imensa de colocar no papel o que estou pensando. Até tento;
escrevo, leio, apago, reescrevo. Mas nada que rabisco parece descrever
exatamente o que estou sentindo naquele determinado momento.
Sempre
escrevi bastante. Quando era adolescente tinha o hábito de registrar no diário
cada pequeno ou grande evento que acontecia na minha vida. Ironicamente, quando
comecei a estudar jornalismo parei de escrever, bloqueie de vez. Lembro que eu
só escrevia para as atividades do curso, nada além. Foi um período ruim, porque
como eu não expressava o que acontecia no meu mundo interior, também me
desencorajei para escrever sobre o que acontecia ao meu redor. Depois da
faculdade ainda fiquei um tempo sem escrever, mas um belo dia a inspiração
voltou e eu recomecei a compartilhar com o papel tudo, ou quase tudo, o que
pensava.
Hoje
percebo que escrevo quando estou muito eufórica, brava ou feliz. Ainda não consegui
recuperar aquele hábito saudável de também escrever nos momentos de tristeza,
pois é exatamente nessas horas que escrever ajuda a clarear as ideias e a
aliviar o peso da alma (pelo menos para mim).
Acho
que hoje em dia todos nós de certa forma evitamos falar sobre a
tristeza. Escondemos esse sentimento debaixo do tapete como se ele não fizesse
parte de nossas vidas e fingimos viver só de alegrias...
O
assunto tristeza virou tabu, nas rodas sociais e nas redes sociais – onde fazemos questão de sempre aparecer no nosso MELHOR momento. Ficar triste virou
sinônimo de derrota – assim como afirmou o colunista Walcyr Carrasco em um dos
seus textos na revista Época. É a tal da felicidade obrigatória! Temos que
estar alegres e felizes o tempo todo; do contrário podemos ganhar a fama de “pessoa
baixo-astral”.
Não sei
vocês, mas eu tenho uma certa desconfiança das pessoas que fazem questão de mostrar que estão bem o tempo todo. Chego a achar esse comportamento patológico. Mas esse é um outro assunto e a minha prioridade neste momento é lutar
contra o meu pudor de escrever sobre a tristeza – mesmo que seja apenas no diário, fora do alcance da leitura de todo mundo.
Camila
Santos