Quarta-feira, 8 de março. Entro no ônibus e vejo uma motorista mulher. Fico surpresa! E porque a surpresa? Mulher também dirige ônibus, esqueceu? Dirige trem, caminhão e até avião. Mulher conduz. Conduz a casa, a escola e a empresa. Mulher trafega. Trafega por todas as profissões, os cargos e espaços. Mulher abre caminhos, faz o caminho, percorre e corre (como corre!). Mulher dá a direção, dá sentido, dá a vida.
Exagerada é Apelido
quarta-feira, 8 de março de 2023
domingo, 21 de agosto de 2022
"Fui sua aluna"
Dia desses fui a um laboratório de análises clínicas para me livrar (quis dizer entregar) duas amostras de excrementos, também conhecido como cocô.
Enquanto esperava, ansiosa, para largar (quis dizer deixar) os tubinhos com algum enfermeiro, vi uma senhora muito elegante. Ela era loura, tinha os cabelos bem curtinhos e estava sentada com o celular nas mãos. Eu estava em pé, a pouca distância da distinta mulher, o que permitiu que eu escutasse, por tabela, um áudio que alguém enviara para ela. “Solange”, disse a voz do áudio. “Hum, Solange”, aquele nome era familiar para mim, refleti. Olhei de novo, e com um pouco mais de atenção, para a refinada dama, e a reconheci no mesmo momento. “Sim, era ela!", pensei, a professora Solange do extinto Colégio Senador Roberto Simonsen, em São Caetano do Sul.
A Solange foi a minha professora no Ensino Fundamental ll e foi com ela que aprendi a gostar de Língua Portuguesa. Mais tarde, a professora Elizete Bontempi despertaria ainda mais meu interesse pela disciplina.
Tive vontade de ir falar com ela assim que a reconheci, perguntar se ela lembrava de mim, contar que ela havia me inspirado, que eu adorava as suas aulas, mas me contive. Afinal, estávamos em um laboratório de análises clínicas, em meio a tubos de fezes e urinas e não em um café, rodeadas de cappucinos e croissant. Além disso, só Deus sabia que tipo de exame aguardava por ela. Coleta de sangue? Algum ultrassom do tipo feminino e desconfortável? Minha imaginação foi longe em questão de segundos. Por fim, sentei ao lado dela a fim de aquietar a mente, mas foi aí que a vontade de puxar papo veio ainda com mais força; novamente me segurei. Desta vez o que me brecou foi a lembrança do que uma professora da graduação, de humor ácido, sempre dizia a nós, alunos. "Se me virem no Carrefour finjam que não me conhecem, porque eu vou fingir que não conheço vocês". Diante dessa doce lembrança hesitei e permaneci sentada e imóvel, quase sem respirar, na silenciosa sala de espera com paredes brancas.
Quando o enfermeiro finalmente abriu a porta e a chamou eu gritei, assim como quem leva um susto: "professora". Ela olhou na mesma hora. "Eu fui sua aluna", disse meio sem jeito. Ela sacudiu a cabeça em tom de negação e indignação como se pensasse: "até aqui aparece um aluno!". Diante dessa reação calorosa respondi: "não dá pra escapar, neh?" (nem dos exames e muito menos dos ex-alunos), pensei, enquanto ela se dirigia para sala de coleta.
sexta-feira, 4 de março de 2022
Para Catarina, minha pequena
O
tempo voou
E
você aprendeu
A
andar, a falar e até a cantar
O
tempo voou
E
você foi brincar
De
correr, de pular e de escorregar
O
tempo voou
E
você quis jogar
A
bola e também a areia pro ar
O
tempo voou
E
você escutou
O
barulho do mar e o trovejar
O
tempo voou
E
você aplaudiu
O
avião, o helicóptero e as nuvens que viu
O
tempo voou
E
você desenhou
No
caderno, na parede e também no tapete
O
tempo voou
E
você saboreou
Um pão
de queijo quente e o chocolate ao leite
O
tempo voou
E
você viu girar
Os
pássaros, a abelha e a borboleta no ar
O
tempo voou
E
você se encantou
Com
a Peppa Pig, o Daniel Tigre e o personagem Blippi
O
tempo voou
E
você embirrou
Pra vestir
os sapatos e o vestido de babados
O
tempo voou
E
você se transformou
Numa
menina travessa, cheia de cachos e chiquinhas na cabeça
O
tempo voou
E
você cresceu
E o meu amor transcendeu
E
essa poesia nasceu
segunda-feira, 26 de julho de 2021
Celebrar a vida
Não é sobre completar mais um ano de vida. É sobre completar mais um ano de vida em meio a uma pandemia que tirou a vida de tantas pessoas. É sobre estar aniversariando com saúde, ao lado da família completa, uma parte até já imunizada. É sobre estar fazendo aniversário e poder comemorar, porque todos os meus amigos estão vivos, bem e seguindo como podem em seus home offices. Aliás, é também sobre ter trabalho, moradia e acesso a pequenos luxos, enquanto muitos não estão conseguindo ter acesso ao essencial. É sobre ainda ter esperança, enquanto muitos a perderam diante de tantas tragédias. É sobre ter uma lista grande de pessoas que desejo encontrar e abraçar quando estiver imunizada. É sobre celebrar a vida. É sobre gratidão!
segunda-feira, 5 de abril de 2021
"Filho é um espinho"
“Filho é um espinho”, disse uma senhora do meu condomínio outro dia para mim. “Você acha?”, perguntei intrigada. “Sim!”, afirmou ela sem pudor. Eles nos cansam quando crianças, nos preocupam quando adultos e esquentam a nossa cabeça a vida inteira. Ajeitei a minha filha no colo, me aproximei – ainda não eram tempos de pandemia – e comecei a ouvir, com mais atenção, o que aquela senhora de cabelos brancos e pele enrugada tinha pra me dizer.
Ela falou por uns cinco minutos. Contou todas as suas aventuras e desventuras como mãe. Me colocou a par até de alguns detalhes inconfessáveis – que eu preferia nem ter escutado. Vez ou outra, minha filha chutava a minha perna em tom de impaciência, como se pedisse para que saíssemos dali,mas como interromper uma senhora determinada a narrar a vida para uma jovem estranha? Fiquei ali, em pé, com dor na espinha dorsal, até que ela encerrasse toda a sua trajetória maternal.